PALESTRA: TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA

Autores

  • Aurélio José Antunes de Carvalho aurelio.carvalho@ifbaiano.edu.br
    Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, Campus Santa Inês

Palavras-chave:

Agroecologia, Semiárido, Mestrado Profissional em Ciências Ambientais

Resumo

Vivenciamos a contemporaneidade com a problemática da desigualdade social e perspectivas sombrias de futuro na Terra. Persiste o avanço do capitalismo com seu viés neoliberal; passa como rolo compressor sobre todas as estruturas, transformado tudo em mercadoria sem deixar escapar a água, a comida, o ar, a saúde e a educação. Por sua vez, as questões ambientais se acirram e as mudanças climáticas estão na ordem do dia. Porém, há reações especialmente dos subalternizados – o Sul pensando o Sul (Sur-Sur), de modo a superar o pensamento colonialista, vem à tona ideias antigas dos povos e comunidades tradicionais, que mexem e (re)mexem as estruturas do pensamento cientifico eurocêntrico que, obviamente, tem sua contribuição para a Ciência. Entretanto, a Ciência não é neutra; a sociedade que vivemos é dividida em classes, nós temos peculiaridades inerentes a povos que foram impactados pelo colonialismo. De acordo à estrutura vigente, de um lado estão aqueles que acumulam muito. Para ilustrar tamanha concentração tem-se o panorama agrário. O Censo Agropecuário (2017) encontrou 5.072.152 estabelecimentos rurais no Brasil, entretanto 1% do total detém 47,52% das terras agrícolas. Esse segmento em sua imensa maioria assume uma agricultura dentro dos padrões tecnológicos da Revolução Verde, de modo a adicionar os transgênicos e a uniformização de modos de vida expressa na dieta alimentar – restringe-se hoje a 20 produtos. O país é maior consumidor de agrotóxicos do mundo desde 2008, cerca de mais de cinco litros por habitante ano (Carneiro et al., 2015). E aí o que fazer? Como podemos mudar esse quadro, transicionar?! Existem pistas como ideias-forças insurgentes que podem auxiliar a luta pela reversão desse quadro atual, pode-se citar: buca da alimentação saudável; diretos da Terra (rios, florestas como entes possuidores de direitos, portanto); agroecologia enquanto abordagem da agricultura; valorização de circuitos curtos de produção e consumo e da sociobiodiversidade; economia solidária, tecnologias sociais, implementação de agroecossistemas complexos, agricultura urbana, solidariedade e diálogo de saberes entre a academia e os PCT (povos e comunidades tradicionais), educação do campo e seus princípios. Isso também significa propor uma ciência que liberta e promove pessoas, que respeita a vida e sua diversidade. Interessante é que o ser humano diante de suas ações devastadoras, tomando para si o centro da vida, isto é, centralidade dos que são detentores meios de produção – ironicamente, muito provavelmente, batizará uma nova era geológica: o Antropoceno e o que virá depois? E se não houver transição do pensamento/ação biocida/ecocida para o pensamento/ação do Bem Viver, por exemplo?! O Bem Viver (Acosta, 2013; Silva, 2017) que emerge dos povos pré-colombianos que percebe e respeita a vida e seus processos, que traz nova forma de os homens e as mulheres se relacionarem em si e com planeta, essa cosmovisão, imersa das ideias-forças mencionadas podem ser motores capazes de apontar caminhos para a humanidade buscar outro rumo que supere o capitalismo. Decerto, a transição ecológica pode semear e cavar espaços para mudanças, transformações necessárias e urgentes. Afinal, o novo se constrói dialeticamente sobre o velho.

Referências

ACOSTA, A. El Buen Vivir: Sumak Kawsay, una oportunidade para imaginar otros mundos. Barcelona: Icaria. 2013. 190 p.

CARNEIRO, F. F. et al. Segurança Alimentar e nutricional e saúde. Parte 1. In: CARNEIRO, Fernando Ferreira et al. (Org.). Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015. Disponível em: Acesso: 10 maio. 2017.

Publicado

2024-02-29

Como Citar

Carvalho, A. J. A. de . (2024). PALESTRA: TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA. Cadernos Macambira, 9(2), 46–47. Recuperado de http://revista.lapprudes.net/index.php/CM/article/view/1259