ECOFEMINISMO: MULHERES E POVOS RUMO À UMA CULTURA SUSTENTÁVEL

Autores

  • BÁRBARA NASCIMENTO FLORES barbaranflores@yahoo.com.br
    Universidade Estadual de Santa Cruz
  • SALVADOR DAL POZZO TREVIZAN salvador@uesc.br
    Universidade Estadual de Santa Cruz

Resumo

Desde sempre na História oficial e não oficial, contada pelos livros e documentos, mas principalmente
pelas bocas, gestos e modos de viver dos povos ligados à Terra, impulsionados pela força das mulheres em
parceria com seus aliados homens que lutam pela vida em sua mais intrínseca concepção. Lutam por sua própria
sobrevivência, mas principalmente pela possibilidade de existência de outros que aqui já estão ou os que estão
por vir.
Estes povos, cada um com sua própria maneira de manifestar esta existência e sua ligação com o
ambiente que o cerca, compartilham da sabedoria de que nós seres humanos somos uma parte, dividida em muitas
partes que formam a grande composição do organismo vivo que é o Planeta Terra, que através das eras tem
mostrado a natureza cíclica pela qual navegamos como simples tripulantes à mercê do inesperado, ideias estas,
confiantes de que o passado que envolve a ancestralidade ainda está vivo e presente no sangue que corre nas veias
dos que existem no agora. Este é o principal motivo de saberem, enquanto povo, que a ligação entre passado e
futuro é a força propulsora do presente. Por isso, as ações da geração presente são para manterem a sobrevivência
das próximas, que são os elos vivos dos que já se foram.
Exatamente esta pulsante ancestralidade presente nos corpos atuais é quem irá permitir que adentremos
na cultura hegemônica para então transformá-la de dentro para fora. O chamado para abraçarmos a ancestralidade
e nutrir o lado materno que compõe nosso DNA enquanto povo são atos revolucionários nos tempos atuais. Lado
este que foi subjugado e deixado no obscurantismo da cultura, mas que agora, ressurge das cinzas, representado
por mulheres e homens, mas principalmente por mulheres, que hoje, munidas de força, conhecimento ancestral e
ferramentas atuais, com conhecimento científico, discursos embasados e artes questionadoras, se tornam grandes
ativistas e formadoras de opinião buscando a cura das doenças sociais, emocionais, psicológicas e ecológicas em diferentes espaços de atuação, seja no campo, na cidade ou na política. Questionando as bases, usos e costumes
que não cabem na estrutura social atual.
A sociedade hegemônica, padronizada e pasteurizada tenta dominar outras sociedades a fim de manter
sua hegemonia e privilégios, em contra partida, o que deve se instaurar cada vez mais, é a convivência com a
diversidade e incertezas. Diversidade presente em todos os âmbitos, nas políticas, nas ideologias, religiões,
manifestações culturais, classes, raças e gêneros. Esta diversidade deve guiar a voz de todos aqueles que pulsam
a ancestralidade na existência atual para buscar soluções sistêmicas em todas as frentes de luta e movimentos
sociais na construção de um novo modelo de sociedade baseado no Bem-Viver.
O conceito de Bem-Viver vem sendo construído e ganhando notoriedade na medida em que as
consequências e impactos negativos do avanço do capital se instalam principalmente na América Latina, trazendo
a necessidade de se pensar em um modelo de sociedade mais inclusivo e que respeita a natureza, baseado em
cosmovisões dos povos originários. Então o bem viver teria um complexo de significados, como vida plena, vida
harmoniosa, vida inclusiva e saber viver, cujos elementos centrais seriam sua visão do “Todo” (sistêmica), a
convivência na multipolaridade, a busca de equilíbrios, a complementariedade da diversidade e a descolonização
(SOLÓN, 2019).
Onde há vida, há diversidade, portanto, há incertezas diante das infinitas possibilidades de interações
entre os diversos. Exatamente a incerteza é quem oferece sensações que nos mostram cada célula funcionando na
sua máxima potência, acionando todos os sentidos a se manifestar para tomar as melhores decisões para o
momento. A incerteza pode ser representada pelas crises, que atualmente nos deparamos, que são na verdade
sinais para ativar os sentidos, parar, prestar atenção, vivenciar, pedir ajuda, cuidar do que precisa ser cuidado,
integrar todos os lados e a partir daí tomar decisões que caminhem para a harmonia de todos os envolvidos.
Ao olharmos para nossa civilização atual percebemos vários desequilíbrios, dentre eles, vemos poucas
pessoas usufruindo de grande parte dos recursos naturais, em detrimento da devastação ambiental, contaminação
de solos e água, extinção em massa de fauna e flora, extermínio de culturas e expulsão de povos de seus territórios
tradicionais, e ainda, não menos importante, exploração de uma grande massa empobrecida, especialmente
mulheres que por interesses exógenos após serem confinadas no reino da casa, tiveram sua força de trabalho
invisibilizada e desvalorizada, que não por acaso, foram a elas delegadas, desde os primeiros sinais de instauração
do capitalismo.
O período compreendido pela Inquisição que durou cerca de quatro séculos durante a Idade Média a partir
do século XIII, foi o marco, para a história mundial, no que diz respeito aos povos originários das terras
“conquistadas” e também para as mulheres subjugadas pelos tribunais, compostos pela parceria entre Igreja e Estado, atendendo a interesses econômicos das sociedades dominantes, marcou o momento em que a resistência
das mulheres e dos povos se tornou característica intrínseca para a continuidade de existência, diante do rolo
compressor ditado pelo capital econômico, em busca de expandir seus domínios (FEDERICI, 2004).
A necessidade de dominar, parte do princípio, da necessidade de segurança do ser humano, a crença de
que seguir um “padrão” traz a sensação de estar seguro, ou seja, o diferente é incerto, portanto devo combate-lo,
eliminando-o ou assimilando-o. O lado hegemômico, se enxerga como universal, logo os diversos devem
desaparecer. Na atualidade, como em tempos antigos, este hegemônico é o polo dominador nas relações entre os
seres humanos e entre sociedade e natureza, mesmo ambos sendo apenas lados da mesma moeda. A visão de
mundo eurocêntrica, pela qual compartilhamos nossas experiências e interações com o mundo, ditam os valores
pelos quais devem guiar o caminhar da humanidade. Desta forma, as ideias de dominação daquilo tudo que
representa a natureza, decorrentes das ideias iluministas de pensadores da época dos séculos XVII e XVIII, como
Descartes e Newton, guiaram os passos da sociedade até os dias de hoje.
Muitos avanços científicos e tecnológicos foram alcançados desde então. No entanto, chegamos num
ponto crucial, de uma nova crise que abala os pilares da estrutura social atual. A supervalorização de alguns
pontos em detrimento de outros, gerou vários desequilíbrios que reacende as antigas chamas e impulsiona novas
chamas para juntas fazerem uma nova revolução pautada na vida, que ativa diferentes frentes de atuação ditas
minorias, que juntas se tornam a maioria.
Nos deparamos com questões que podem sucumbir nossa própria existência. Os impactos sociais e
ambientais antes tidos como externalidades do modelo de desenvolvimento econômico podem comprometer a
capacidade de satisfazer as necessidades básicas de muitas sociedades no presente e no futuro (BRUNDTLAND,
1987). Este modelo de desenvolvimento, onde todas as sociedades e indivíduos almejavam chegar como se
tivessem numa escada com degraus que levassem até o topo, já mostrou que não se sustenta nem à curto, muito
menos à longo prazo. A escada representada pelo sistema natural se tornou vulnerável diante da capacidade de
destruição que nossa sociedade alcançou, pois chegamos mais alto que a base da escada consegue suportar. Sendo
assim, aqueles que já estão no último degrau, para se manterem lá, mesmo sabendo da fragilidade da escada,
começam a derrubar e dificultar a ascensão dos outros, que muitas vezes, lutam simplesmente para permanecerem
na escada.
Embora seja possível encontrar justificativas para lidar com a natureza considerando exclusivamente as
necessidades dos seres humanos – como é feito mais habitualmente quando se discute o desenvolvimento
sustentável –, existe a convicção, compartilhada entre muitos pensadores da ética ambiental, de que um dos traços
mais problemáticos do modo como a civilização ocidental vem lidando com a natureza está no seu exacerbado antropocentrismo, que é definido e amparado nas suas tradições religiosas (judaico-cristãs) e filosófico- -morais,
notadamente as escolas aristotélica, kantiana, utilitarista e contratualista, se reflete nas concepções políticas,
econômicas e desenvolvimentistas que historicamente levaram à prática a moralidade que justificou o impulso
em transformar a natureza para o domínio humano (FLORIT, 2016).
Diversos estudos comprovam que a sociedade deve barrar a utilização insustentável do mundo natural,
fundado neste modelo dominante de desenvolvimento e crescimento econômico que provoca o desequilíbrio no
meio ambiente, no ecossistema e no Planeta Terra devido aos interesses egoístas de pessoas, coletividades e
nações. Sendo assim, torna-se necessário modificar as visões de mundo que norteiam os modos de
desenvolvimento e crescimento, os sistemas de economia, os usos da natureza e vincular o paradigma da
sustentabilidade, na sua acepção ecológica, ao modo de vida humano e ao modelo de desenvolvimento e produção
na sociedade atual para alcançar o Bem-Viver da humanidade como um todo, respeitando a diversidade de
culturas e biodiversidade dos ecossistemas.
A cultura e a identidade enraizadas na ancestralidade precedem a qualquer dinâmica de desenvolvimento
local, para as comunidades tradicionais, por exemplo, a arte, o artesanato, os ritos, entre outros valores que
permeiam suas dinâmicas comunitárias cotidianas constituem patrimônio cultural, que, por intermédio dos
fazeres e saberes, se perpetuam ao longo do tempo, configurando o sentimento de pertencimento com relação ao
local (ARAÚJO et al., 2017). Dessa forma, o local, quando encontra e assume a sua identidade, potencializa-se
como alternativa ao desenvolvimento sustentável, contribuindo para a preservação ambiental do território, assim
como para a respectiva valorização cultural. Para Little (2002) a comunidade tem que se sentir ativa e ocupante
do território, com um sentimento de pertencimento. O grupo, o lugar e o pertencimento se convergem e dialogam
para as relações ambientais que cercam os indivíduos. Portanto, o ser humano procura ocupar o espaço para
delimitar o território, buscando sua identidade no lugar, onde o território será o cenário do reconhecimento e as
paisagens que formam os emblemas em que todos se reconhecem.
E mais uma vez, navegando pela História da Humanidade, temos visto os movimentos de mulheres em
todo o mundo tornando-se vigorosos e cada vez mais abrangentes impulsionando o olhar da sociedade para
questões gritantes enraizadas no tecido social atual. Questões estruturais como - antropocentrismo, imperialismo,
androcentrismo, racismo, sexismo e classismo - vêm à tona para questionar a subjugação de povos e mulheres e
a exploração da natureza usados para alimentar a fome insaciável do capitalismo, modelo de sociedade
incentivado e almejado pelos “dominantes”, e também pelo inconsciente coletivo da sociedade em geral.
Para Foladori (1999) uma análise crítica e uma oposição através de ações concretas, à uniformidade da
cultura tecnológica industrial – capitalista e socialista – são cruciais para as lutas que defendem as soluções locais de sustentabilidade. É necessário incorporar o entendimento que um meio ambiente saudável é condição
primordial para nosso bem-estar, para o funcionamento da economia e, finalmente, para a sobrevivência da vida
na Terra. Puleo (2011) completa que assumir os limites do ecossistema e a luta contra a exploração social através
de certo decrescimento dos países desenvolvidos, e um crescimento sustentável comedido para os demais países
são mudanças estruturais e culturais que devem fazer parte da construção de uma sociedade pautada em diferentes
valores de relacionamento entre os seres humanos em si, e destes com o restante da vida na Terra. Valores que
condizem com a construção de um novo paradigma de organização social, voltado para o âmbito comunitário,
com soluções locais no atendimento das necessidades básicas de alimentação, moradia, saúde e educação,
permeado por uma economia que fortaleça as ações locais e proporcione qualidade de vida para as pessoas, sem
ultrapassar a capacidade que o ambiente não possa suportar.
É neste momento decisivo, em que nos encontramos enquanto sociedade planetária, que através de nosso
poder de capilaridade conseguimos impactar os mais distantes rincões. Sendo assim, necessitamos da união de
todos os povos, reconhecendo a diversidade e reconectando com a ancestralidade de cada um, para criarmos
estratégias de atuação que são locais, mas que ao mesmo tempo, tenham alcances globais, influenciando a visão
de mundo em busca de uma cultura que tenha valores de sustentabilidade em suas ações.
Num momento histórico em que o mundo precisa de novos atores e novas alianças para assumir a
responsabilidade com o cuidado da vida no planeta e a mudança do paradigma civilizatório, o ecofeminismo –
junto com outros pensamentos que reflitam sobre a diversidade e a pluriculturalidade – se perfila como um
conceito que nos instiga a atualizar o feminismo às demandas e desafios contemporâneos. O ecofeminismo é um
conceito atual que vem investigando desde a década de 1978 com Françoise d’Euaubonne, a ligação existente
entre a luta pela libertação das mulheres e a luta pela proteção da natureza, que não é recente, mas sim parte da
trajetória histórica de muitos povos, em que a exploração da natureza é a sua própria exploração. Nesta mesma
década, a sociedade se deparou com o Movimento das Mulheres Chipko na Índia representado pela atuação e voz
de Vandana Shiva, que desde então atua na luta pela libertação da terra, como a própria libertação das mulheres
e dos povos. O ecofeminismo latino-americano com um perfil próprio traz uma revalorização das cosmovisões
autóctones dos povos originários e a ênfase na práxis da libertação. Este é um traço da proposta geral ecofeminista
de construção de novas cosmologias ou teocosmogonias que tem sido adaptada e lançada através da Teoria de
Gaia de Lynn Markulis e James Lovelock (1979, 2006) segundo a qual o planeta é considerado um ser vivo cujos
elementos estão em total interação. Com um sentido mais amplo esta teoria é uma proposta de uma concepção
que retorne a primitiva sacralização do planeta e que impeça ações humanas predatórias contra a própria
existência e de toda a vida na terra. Nos escritos de Mies e Shiva (1995) diz que a abordagem desenvolvimentista de crescimento econômico
linear e ascendente e ao mesmo tempo racista, sexista e classista, explora as mulheres através do trabalho
doméstico gratuito e de mão de obra barata, explora a natureza para a produção de bens e alimentos prejudiciais
à saúde humana, contaminam o solo, e prejudica, ainda, comunidades rurais, transformando seus modos de vida
tradicionais em entraves para o desenvolvimento.
A experiência com estudos e pesquisas sobre indicadores de sustentabilidade ambiental em comunidades
têm mostrado que as pequenas organizações sociais, impulsionadas pelos movimentos de mulheres, fortemente
relacionadas com o ambiente do entorno tem muito a contribuir para o intercâmbio com as sociedades maiores,
no que tange à convivência saudável entre as diferentes categorias de seres viventes, num ambiente sustentável,
que se resume à diversidade. O protagonismo das mulheres camponesas junto à produção de alimentos e ao
manejo de recursos naturais, a força dos movimentos destas mulheres na conquista de direitos e a decisiva
participação das mulheres na definição e propostas de políticas públicas que garantam a equidade de gênero no
meio rural são ações decisivas para garantir um desenvolvimento mais humano e sustentável (ANGELIN E
SCHNORRENBERGER, 2017).
Comunidades locais, muitas delas com atividades de subsistência desenvolvidas por mulheres, resistem
à lógica desenvolvimentista patriarcal e capitalista, pois não tratam a natureza como mero recurso, oposto aos
humanos, a ser dominada. Mantêm-se na contramão do ‘des-envolvimento’ com suas formas de vida mais
integradas à natureza, preservando, de fato, a biodiversidade. Como resultados positivos dos movimentos
organizados por mulheres de comunidades indígenas, quilombolas e camponesas conseguiram a implementação
de ações práticas e da criação de políticas de proteção ao meio ambiente natural, representando movimentos
muito importantes dentro da sociedade brasileira. A organização dessas mulheres tem sido dividida em grupos
distintos por regiões e/ou por organizações sindicais, como o Movimento das Margaridas, o Movimento das
Mulheres Trabalhadoras Rurais e, também o Movimento das Mulheres Camponesas e o Movimento das Mulheres
Indígenas que ligados a várias vertentes sindicais e políticas, construíram e ainda constroem – identidades
políticas e o seu reconhecimento público das camponesas. Todos esses movimentos articulados de mulheres do
campo promovem mobilizações, lutas pontuais, processos de formação e divulgação do trabalho dessas mulheres.
Acreditando nisto, vários questionamentos me motivaram a investigar as relações entre os pressupostos
do ecofeminismo com os indicadores de sustentabilidade ambiental em comunidades, considerando dimensões
natural e socioeconômica do ambiente. A dimensão natural, porque é ela que nos circunda, nos abriga e nos
oferece as bases materiais de sobrevivência: o ar que respiramos, a água que bebemos, o solo em que plantamos
e colhemos, o chão em que pisamos. A dimensão social, porque uma comunidade não subsiste sem que nela se desenvolvam condições mínimas de convivência entre os humanos e destes com a natureza. A dimensão
econômica, porque nenhum indivíduo ou comunidade sobrevive sem que nela se criem condições mínimas de
reprodução da vida material. São, pois, três pilares indispensáveis para que se possa pensar na sustentabilidade
do meio ambiente, constituído por seres bióticos, abióticos e antrópicos.
Como respaldo para traçar as hipóteses que nortearam esta pesquisa, levou-se em consideração as
conexões entre os aspectos teóricos e práticos que caracterizam o ecofeminismo, as lutas e preceitos gerais de
comunidades rurais que motivaram a análise da relação entre o ecofeminismo e a sustentabilidade ambiental de
dois tipos de comunidades, tendo como ponto de partida o pressuposto de que os princípios que norteiam as ações
do movimento ecofeminista estão em estreita sintonia com a sustentabilidade do meio ambiente; e do pressuposto
de que práticas em conformidade com a proteção do meio ambiente estejam presentes na base da organização e
da dinâmica das comunidades, já que exemplares destas comunidades (ecovilas e comunidades indígenas) vêm
sendo reconhecidos por suas relações ecológicas com os ambientes que as circundam, considerando a diversidade
cultural, logo, as práticas das comunidades podem estar associadas aos princípios do ecofeminismo citados
anteriormente.
Para o respaldo de tal avaliação foram abordadas as diversas contribuições do ecofeminismo no sentido
de questionar e propor valores que condizem com a construção de relações respeitosas entre os seres humanos e
destes para com o seu meio. O pressuposto ecofeminista de que haja uma intrínseca conexão desse movimento
com a conservação do meio ambiente permite supor que, uma vez caracterizada a presença de aspectos que
caracterizam o ecofeminismo nas comunidades, desenvolvam-se ali práticas ambientalmente sustentáveis. Tal
avaliação pôde ser implementada mediante a identificação de indicadores que representaram valores defendidos
pelo ecofeminismo, associados com indicadores que representaram a sustentabilidade ambiental das comunidades
em questão.
Esta pesquisa para a tese de doutorado, concluiu que as debilidades e perigos de um conceito como o
ecofeminismo ainda em formação na prática não devem ocultar seus ganhos e potencialidades no sentido de
questionar os padrões culturais que estão contribuindo para a degradação ambiental e desarticulação comunitária
das sociedades em geral. Com este estudo, empiricamente observado foi possível concluir que os princípios
ecofeministas estão intrinsecamente conectados com diferentes práticas nas comunidades em questão, capazes de
contribuir para a sustentabilidade ambiental das mesmas, se estão presentes ou até mesmo para baixar o nível de
sustentabilidade quando não estão presentes. Trata-se, portanto, de uma reestruturação da dinâmica social, ou
seja, uma forma diferenciada de como os seres humanos relacionam entre si e como interagem com o seu meio.
A mudança que está na essência destas estruturas se refere à importância das ações locais para a recuperação e defesa do meio ambiente, o cultivo de relações colaborativas no lugar de relações dominantes, reestruturando a
noção de poder, uma vez que direciona o pensamento à igualdade política, econômica e social. Reclamando a
forma particular de ser mulher na estrutura social e das reivindicações de igualdade com os lugares privilegiados
dos homens na ordem estabelecida, o que não pode significar a inversão dos papéis e das formas de execução do
poder.

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Publicado

2021-08-27

Como Citar

FLORES, B. N., & TREVIZAN, S. D. P. (2021). ECOFEMINISMO: MULHERES E POVOS RUMO À UMA CULTURA SUSTENTÁVEL. Cadernos Macambira, 4(2), 94–102. Recuperado de http://revista.lapprudes.net/index.php/CM/article/view/379