LUGAR E PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS EM SAÚDE (BA)

Autores

  • JOELMA SILVA DOS SANTOS joelma-1saude@outlook.com
    Universidade do Estado da Bahia
  • JAMILLE DA SILVA LIMA jaslima@uneb.br
    Universidade do Estado da Bahia

Resumo

Este trabalho foi realizado em Saúde, município localizado na mesorregião centro-norte do estado Bahia,
onde uma das principais atividades econômicas e produtivas de destaque é a agricultura de base familiar,
principalmente pela existência de agricultores que comercializam sua produção no mercado local (sede do
município), durante a Feira Agroecológica Solidária. A mesma recebe este nome devido à sua vinculação com
alimentos oriundos da agricultura familiar de base ecológica e solidária.
Neste texto buscamos entender as reverberações da agroecologia na transformação do lugar,
especialmente no âmbito de comunidades rurais do município de Saúde, que se apresentam como um lócus de
resistência às mais variadas formas de influência do capital. O modo de cultivar, cuidar e preservar a vida humana
e a vida do ecossistema também ganha destaque durante essa investigação.
O método de abordagem utilizado foi o dialético materialista, uma vez que se buscou conhecer o
fenômeno do ponto de vista da contradição e dos conflitos existente entre os dois modelos de produção agrícola
mais conhecidos, sendo eles a agricultura convencional e a agroecologia (agricultura familiar de base ecológica).
Ambos os modelos apresentam características distintas, enquanto um é desenvolvido em função do capital
(agricultura convencional), o outro se contrapõe, priorizando outras questões mais voltadas a princípio para a
preservação dos recursos naturais, a sociedade e por último o fator econômico.
Fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, na qual as contradições se transcendem dando origem a
novas contradições que passam a requerer solução. É um método de interpretação dinâmico e totalizante da
realidade. Considera que os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social, político, econômico,
etc. O trabalho foi desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, documental e de campo. A pesquisa
bibliográfica nos permitiu compreender alguns dos principais conceitos abordados, como o lugar e a agroecologia, utilizando como referências base para tal pesquisa, dois grandes autores, sendo eles Milton Santos,
para entender o conceito de lugar (numa perspectiva dialética) e Miguel Altieri para aprofundar a compreensão
do conceito de agroecologia como uma prática alternativa a agricultura convencional. A pesquisa documental
possibilitou uma leitura contextual da atividade agroecológica no município, especialmente por meio dos
documentos produzidos (arquivados) por uma instituição chamada Cooperativa de Trabalho e Assistência à
Agricultura Familiar Sustentável no Piemonte da Diamantina (COFASPI) que desenvolve trabalhos de assessoria
técnica para agricultores familiares na microrregião de Jacobina. A pesquisa de campo foi desenvolvida a partir
do diálogo com antigos funcionários da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário (EBDA, empresa já
extinta), do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e dos Conselhos municipais de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável, que nos permitiu identificar as principais comunidades rurais e os agricultores
familiares que trabalham com agroecologia no município de Saúde.
Neste sentido, nos aproximamos de agricultores rurais, por meio do qual identificamos suas formas de
trabalho, técnicas de manejos do solo e especificamente, suas perspectivas agroecológicas. A agroecologia está
calcada na agricultura tradicional, a qual se apropria de conhecimentos (saberes) locais e fundamenta-se nos
costumes (cultura) dos agricultores que exercem suas atividades de base familiar. O conhecimento sobre a
ambiência onde vivem, as terras onde trabalham, as relações estabelecidas de forma solidária são destaques ao
analisar o perfil dos agricultores alvo dessa pesquisa. Esses conhecimentos são fundamentais as intervenções e
mesmo para a constituição dos lugares. Eles fundamentam práticas consideradas alternativas para aqueles
agricultores que prezam por um modelo de agricultura mais sustentável. Este modo se opõe e critica a agricultura
convencional, aquela considerada aos olhos do sistema capitalista como uma agricultura moderna, inovadora,
geradora do progresso e desenvolvimento das nações. Porém, contraditoriamente, este modelo historicamente
tem causado impactos negativos tanto ao meio como a sociedade.
As práticas agroecológicas dos agricultores rurais em Saúde apresentam forte relevância social, cultural,
ambiental e econômica, corroborando deste modo para as transformações socioespaciais do lugar onde vivem e
consequentemente para o destaque socioprodutivo do município. Para municípios como Saúde, no qual a
agricultura familiar é uma das principais fontes de renda da população rural, é importante ressaltar que práticas
como essas merecem apoio, através de ações governamentais que ofereçam subsídios, como:
 Facilitar o acesso a água por meio de redes de abastecimento nas comunidades onde as condições
ainda são precárias;
 Construir estradas em boas condições para trânsito de quaisquer veículos; Disponibilizar espaços adequados (barracas ou boxes públicos) para comercialização dos produtos
(alimentos) provenientes da agricultura familiar de base ecológica;
 Oferecer assessoria técnica para incentivar a preservação das práticas já existentes e orientar a
aplicação de novas práticas agroecológicas condizentes com a realidade de cada lugar;
 Incentivar o acesso e participação dos agricultores aos mercados institucionais (programas
governamentais como Programa Nacional da Merenda Escolar – PNAE e Programa de Aquisição de
Alimentos PAA).
Essas seriam ações simples, porém de grande relevância para os agricultores e para a disseminação do
conhecimento agroecológico, pois esses ainda são os principais entraves para avanço dessa atividade nas
comunidades rurais investigadas. 

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Publicado

2021-08-27

Como Citar

SANTOS, J. S. D., & LIMA, J. D. S. (2021). LUGAR E PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS EM SAÚDE (BA). Cadernos Macambira, 4(2), 153–155. Recuperado de http://revista.lapprudes.net/index.php/CM/article/view/393