DOTAÇÃO E TALENTO: A TRÍPLICE INVISIBILIDADE DE ESTUDANTES NEGRAS

Autores

  • Alberto Abad alberto.abad@ich.ufjf.br
    Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF
  • Thaís Marques Abad tmabad74@gmail.com
    Universidade Federal do Pará – Centro de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Amapá

Palavras-chave:

Dotação, Talento, Tríplice Invisibilidade, Mulheres negras com dotação

Resumo

As políticas afirmativas surgem da necessidade de favorecer determinados setores da sociedade que sofreram ou seguem sofrendo os efeitos da discriminação, injustiça, racismo ou exclusão; dentre estes, na Educação Especial, os estudantes com características de dotação e talento (termos que no presente estudo serão considerados equivalentes ao que o Conselho Nacional de Educação do Brasil – Resolução 2001 – denomina como altas habilidades/superdotação) têm-se tornado invisíveis aos olhos dos professores, responsáveis e sociedade em geral. Sem embargo, o binômio alunas-negras-com dotação apresenta uma tríplice invisibilidade na nossa sociedade, devido entre outros fatores: à educação diferenciada a partir da colônia; a influência da família patriarcal na nossa sociedade; a construção social de gênero; a exígua representatividade de modelos femininos de sucesso; e as cada vez mais evidentes práticas discriminatórias e mecanismos racistas nos quais as mulheres negras têm oportunidades educacionais mais limitadas que as brancas da mesma origem social e portanto, são traduzidas em uma educação desigual, salários menores da média no país e uma maior taxa de desemprego. Fatores que influenciam a percepção de professores, discentes e responsáveis e, portanto, apesar da existência destas alunas negras com dotação e talento nas escolas brasileiras, são poucas as discentes indicadas às Salas de Atendimento Educacional Especializado. Assim sendo, o objetivo deste estudo é analisar os fatores que desencadeiam a invisibilidade do trinômio mulheres negras com dotação e talento nas escolas brasileiras. A metodologia utilizada é de tipo descritiva apoiada em uma pesquisa bibliográfica, que incluiu livros e publicações periódicas que abordam os estudos atuais sobre o Modelo diferencial de Dotação e Talento de Gagné e a Teoria do Domínio Social. Para acessar esses textos, efetuaram-se buscas eletrônicas em importantes fontes de informação para as áreas de Educação Especial e Psicologia, como: PsycINFO, Fundación Dialnet, Educational Resources Information Center (ERIC, Institute of Education Sciences) e Google Acadêmico. Adicionalmente, utilizou-se a estatística descritiva para analisar os microdados recolhidos por pesquisas, avaliações e exames realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) para mostrar o impacto da invisibilidade desse trinômio nas escolas brasileiras. Como resultados observou-se que os professores são os profissionais que em tese têm os conhecimentos e portanto, as melhores condições para observar e indicar as alunas negras com dotação e talento ao Atendimento Educacional Especializado da escola (considerando que tanto os familiares quanto os amigos delas geralmente não possuem esses conhecimentos), a possibilidade de que elas não ingressem às Salas de Atendimento Educacional Especializado da escola seja pelos mitos legitimadores, ou pelos estereótipos e hierarquias sociais estratificadas no inconsciente dos discentes (que os impedem de observarem a presença de indicadores de criatividade e indicadores de D&T), representa a possibilidade que estas alunas nunca percorram o processo de desenvolvimento de suas capacidades naturais e atualizem os seus talentos, e portanto sigam imersas na invisibilidade que representa uma serie de desvantagens cumulativas para estas discentes. Atualmente, a pesquisa está em processo de andamento, contudo, os resultados preliminares apontaram a uma quarta invisibilidade no Brasil: a das mulheres negras com dotação oriundas da região norte do país.

Referências

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Publicado

2021-10-20

Como Citar

Abad , A., & Abad, T. M. . (2021). DOTAÇÃO E TALENTO: A TRÍPLICE INVISIBILIDADE DE ESTUDANTES NEGRAS. Cadernos Macambira, 6(1), 193–203. Recuperado de http://revista.lapprudes.net/index.php/CM/article/view/601