A IMPORTÂNCIA DAS FEIRAS DA AGRICULTURA FAMILIAR DE ILHÉUS PARA A AGROECOLOGIA E EMPODERAMENTO DOS CAMPESINOS DO TERRITÓRIO LITORAL SUL

Autores

  • MARCELLA GOMEZ PEREIRA Universidade Estadual do Sudoeste Baiano
  • EMERSON ANTONIO ROCHA Universidade Estadual de Santa Cruz

Resumo

Reconhecido como exportador de trabalho, o nordeste brasileiro tem apresentado transformações sociais
e culturais que vêm contribuindo para a fixação do homem no campo, mediante incentivos fiscais ao
desenvolvimento de atividades de produção orgânica e familiar (GOMEZ et al., 2016). Considerando as
necessidades socioeconômicas dessa fixação, as feiras livres são espaços que geralmente promovem a articulação
entre produtores e consumidores comprometidos com a transformação de hábitos alimentares, novos estilos de
consumo e a conservação ambiental. Com esse objetivo foi organizada durante o Simpósio de Biologia de 2009
na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus-BA, a primeira feira de produtos agroecológicos em uma
instituição de Ensino Superior (IES), cujo objetivo foi o de apresentar a comunidade local, acadêmica e
participantes do evento, a diversidade de produtos originários do trabalho da agricultura familiar de vários
municípios do território Litoral Sul. Nesse espaço reuniram-se agricultores familiares de assentamentos da
reforma agrária, de movimentos sociais e de comunidade indígena, os quais apresentaram seus produtos e
explicaram a importância da produção agroecológica para o desenvolvimento sustentável local. Essa feira
agroecológica se tornou uma referência de empoderamento social, econômico e cultural, mas também um lugar
de memória, pois a organização desse espaço permitiu que produtores e consumidores recriassem o espaço de
trocas, manifestações culturais e relações sociais. Atualmente existem seis feiras da agricultura familiar na cidade
de Ilhéus sob o acompanhamento e apoio da UESC. Para o referido levantamento, foram utilizados dados
coletados através de questionário no final do segundo semestre do ano de 2015 e contou com uma observação indireta entre os anos de 2016, 2017 e as feiras da agricultura familiar da UESC, do Assentamento Frei Vantuy,
da Avenida 2 de Julho, no centro comercial da Urbis e dos Condomínios Morada do Bosque e Esperança. Nesse
período foram cadastrados 34 indivíduos, em sua maioria ligada à produção agrícola familiar. No entanto, foram
aplicados 28 questionários, onde seis entrevistados se recusaram a participar da pesquisa, que objetivava
averiguar os produtos que estavam sendo comercializados, estimando o valor comercializado por cada agricultor
durante a feira, bem como se a organização desses espaços serviu como canal de comercialização para os produtos
e subprodutos da socioagrobiodiversidade local. Também foi realizada uma pesquisa/análise documental,
reunindo a bibliografia disponível sobre a importância das feiras livres, apresentando informações acerca das
memórias ligadas a esse espaço de comércio, socialização e manifestações culturais. Segundo André (1982), a
análise de dados pela Análise Documental (AD) pode ser iniciada pela anotação nas margens dos documentos de
observações sugeridos pelos dados, classificando-os e organizando-os buscando padrões e temas mais frequentes
por indução, possibilitando a construção de tipologias e categorias. A coleta dos dados ocorreu observações
participantes durante os anos de 2015-2018 e aplicação de questionário no ano de 2015, pois esse período foi
marcado pelo acompanhamento da UESC na realização das feiras, assim como por atividades de desenvolvimento
para capacitação individual dos agricultores por meio da realização de cursos organizados mediante convenio
entre a UESC e o Instituto Cabruca, uma ONG local que contou com apoio financeiro por edital da SETRE-BA.
Constatou-se que os principais produtos comercializados eram de origem agrícola-familiar. Hortaliças folhosas
(alface, couve, espinafre e rúcula), rizomas/raízes (mandioca), fruta (limão), temperos (coentro, cebolinha, salsa
e manjericão), queijos e biscoitos. Chocolate e outros derivados do cacau (geleias, cocadas e mel de cacau) foram
os subprodutos com maior vendagem, junto com o artesanato local, representado principalmente pela produção
de peças para uso cotidiano, tais como panos de prato, enfeites para decoração, artefatos para uso pessoal entre
outros. De acordo com Lambaré, Vignale e Pochettino (2015) as feiras constituem uma instancia de estrutura
social vinculada às práticas que se desenvolvem ao longo do ano, e que só são possíveis a partir da disponibilidade
de produtos que caracterizam as distintas comunidades que participam dessa atividade semanal. O conhecimento
associado a esta atividade promove uma alternativa alimentícia que se mantém vigente ao acionar o cotidiano
que encoraja a conservação e perpetuação dos saberes tradicionais associados a esses espaços (LAMBARÉ,
2014). Como espaço de dinâmica socioeconômica, as feiras movimentam uma parte importante da economia
local. Dessa forma, as feiras da agricultura familiar pesquisadas neste trabalho funcionam cada uma num dia
específico da semana, geralmente no período da manhã (das 7:00 às 12:00h), podendo tanto o dia quanto o período
sofrer influencias da dinâmica de cada local e feirantes, verificou-se o valor agregado ao dia, ao espaço de trabalho
e dos produtos comercializados (Tabela 1). As feiras agroecológicas do município de Ilhéus contam atualmente com 34 agricultores e agricultoras,
uma iniciativa que proporcionou a organização de um canal de comercialização neste município para os produtos
atrelados a cadeia de produção agrícola familiar, beneficiamento de cacau e sua transformação em derivados e a
confecção de artesanato. A comercialização destes produtos contribuiu para o incremento da renda familiar,
agregando valor ao trabalho, melhorando a autoestima dos indivíduos e projetando as potencialidades e
possibilidades de estabelecer na região do Litoral Sul da Bahia um modelo de economia participativa, que
começou na UESC, sendo depois replicado em outros espaços (feira da Avenida 2 de julho; do Condomínio
Morada do Bosque e da Esperança, Centro comercial da Urbis e Assentamento Frei Vantuy), bem como em outros
contextos: socioeconômico e cultural. Nestes espaços são trocadas experiências afetivas, segredos de manejo de
pragas e doenças de plantas, métodos de clonagem e plantio, assim como foram construídas novas memórias,
tendo em vista o tempo e o espaço no qual ela se encontra. Sendo assim, fica evidente que essas comunidades
rurais constituem importantes lócus de saberes consolidados numa prática socioambiental sustentável. Neste
sentido, considerando a enorme riqueza étnico-cultural e biológica existente no Brasil e, neste caso, na região Sul
do Estado da Bahia, espera-se que os gestores nas suas diferentes esferas incentivem e promovam a
sustentabilidade nas suas seis dimensões: política, ecológica, econômica, cultural, social e ética.

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Publicado

2021-08-27

Como Citar

PEREIRA, M. G., & ROCHA, E. A. (2021). A IMPORTÂNCIA DAS FEIRAS DA AGRICULTURA FAMILIAR DE ILHÉUS PARA A AGROECOLOGIA E EMPODERAMENTO DOS CAMPESINOS DO TERRITÓRIO LITORAL SUL. Cadernos Macambira, 4(2), 132–135. Recuperado de https://revista.lapprudes.net/CM/article/view/388