AS ERVAS EM TAPEROÁ- BA
Resumen
Quilombos são comunidades que possuem trajetória própria, com modo de viver tradicional diferente
das cidades, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Além disso, tais comunidades
podem ser pesqueiras, agricultoras e de fecho de pasto. Nessa linha, a comunidade da Graciosa - quilombo
pesqueiro, está localizada próximo a BA 001, bem como é constituída por mais ou menos 100 famílias, sendo
caracterizada como uma localidade pesqueira, e rodeada por um grande estuário marinho, onde pode encontrar o
aratu, ostra, lambreta e carapeba, que serve de alicerce para os moradores. Para além do estuário, há o rio Graciosa
que divide as cidades de Valença e Taperoá. Os moradores costumam pescar diversos peixes e mariscos que
servem para o consumo próprio e para venda. É comum nas comunidades tradicionais que têm a pesca como
exercício, exercer as duas funções para além da pesca, o manuseio da terra tanto para plantar frutas e verduras,
quanto para a utilização das ervas medicinais. Por se tratar de uma área quilombola, há uma grande herança
ancestral, o que torna as crenças hereditárias. Como retrata no livro Médicas-Sacerdotisas: “Remédio de branco
é bom para branco, mas a gente é preto, o médico de preto é kam-souto” (SANTANA, 2018), que descreve um
dos embates entre os Moçambicanos na época colonial, mostrando também que os remédios artesanais tem
relação não só com a religiosidade mas também com a identidade. Neste contexto, Santana (2018) relata que era
comum que pacientes africanos abandonassem o tratamento ai realizado e procurassem serviços de saúde
ministrados pelas médicas sacerdotisas ou pelo Tinyanga como era chamado na época. Na contemporaneidade, o
abandono de tratamentos médicos se dá por falta de recursos financeiros e influência religiosa, sem contar que
nas comunidades há uma grande quantidade de terra que são utilizadas com o plantio de frutas como cacau,
cupuaçu, graviola, abacate e etc, e esses espaços são aproveitados para o manejo também das folhas, fazendo a
uma agrofloresta que consiste no melhor uso do local. Uma das pessoas que detém esse conhecimento são a
rezadeiras (os), essas explicações podem estar ligadas ao conhecimento e princípios da ancestralidade africana indígena, como no caso a utilização da folha certa para cortar o mal ou na preparação de chás (NASCIMENTO,
2014). Neste sentido, uma das imagens registrada no serviço de campo, com a entrevistada e rezadeira Olga, que
mora na Comunidade de Camuruji. Nesta perspectiva, essa pesquisa teve como objetivo mostrar a importância das ervas através da percepção
dos moradores, identificando as ervas existentes no local, analisando o nível de procura por parte dos moradores
e ressaltando a relação de identidade por parte dos mesmos. Essas crenças perpassam por varias religiões, mas
todas tem em comum a presença das folhas, para preparo e recomendações de chás e banhos que é ministrado
pelas rezadeiras. Essa tradição está presente também na comunidade de Camuruji, onde as atividades são muito
semelhantes à de Graciosa. Foi perceptível no decorrer da pesquisa, que os moradores das localidades têm
bastantes familiaridades com as ervas, usando com mais frequência os chás, que são consumidos por serem mais
eficientes e saudáveis segundo os entrevistados. Mesmo essa prática sendo tão comum, não recebe a devida
valorização da comunidade externa, considerando-as primitivas. As rezadeiras e, os moradores mais velhos,
exercem um papel importante na preservação destes conhecimentos, por serem mais velhos a localidade, tornado
assim possível catalogar no serviço de campo, mais de 70 tipos de folhas medicinais que auxiliaram enriquecer a
pesquisa. Para tanto, a metodologia que foi aplicada utilizou o conhecimento empírico, com a ajuda dos
questionários, a leitura de artigos científicos para melhor embasamento das discussões propostas, bem como o
registro de imagens. Com os resultados preliminares, é perceptível observar que as folhas, mesmo na atualidade,
são utilizadas em qualquer campo, seja religioso, medicinal ou espiritual, reafirmando sua relevância para a sociedade, sabendo que ouve uma apropriação por parte da medicina, onde os saberes tradicionais eram usados
para ajudar na cura de doenças (NASCIMENTO, 2014). A pratica da preparação e manejo das folhas sofreu
bastante preconceito oriundo da igreja católica. É importante ratificar a sua resistência durante os acontecimentos,
sendo a Graciosa e Camuruji as comunidades tradicionais que proporciona esse contanto com os saberes
ancestrais em território quilombola.