MARCAS DE ANCESTRALIDADE: O SAMBA DE RODA EM TAPEROÁ-BA
Resumen
O samba de roda é praticado em diversas regiões do Brasil, em suas variações e adaptações, mas todas
advindas de um mesmo núcleo : O berço das senzalas. Como uma cultura afrobrasileira, o mesmo se deu origem
no período da escravidão e teve a participação de escravizados trazidos de diversas regiões da África, sobretudo
do Congo e da Angola, com suas próprias singularidades, os filhos da diáspora misturaram seus saberes e criaram
o que chamamos hoje de samba de roda, ou roda de samba. O termo “samba” significa cabriolar ou brincar e o
círculo que é formado para que ocorra a dança é um grande símbolo de conexão com a ancestralidade. Assim
como na capoeira, estar em roda possibilita que a energia dos ancestrais circule entre os envolvidos, para que a
manifestação seja abençoada por aqueles que participaram do processo de construção e sobrevivência do samba
de roda. Além disso outro elemento que é de grande simbologia é o tambor, um dos instrumentos utilizados, que
segundo LOPES, 2008: “Na época escravista, o tambor era fator de união da massa escrava”. Capaz de transmitir
mensagens, trazer boas energias e arrancar sorrisos. O samba de roda teve forte influência no Recôncavo Baiano,
local onde se originou e se firmou, entretanto, no estado há várias ramificações da prática cultural que se espalhou,
sobretudo em comunidades tradicionais. Uma das sementes do mesmo se encontra na cidade de Taperoá- BA,
localizada no baixo sul. Mais especificamente na Comunidade pesqueira e quilombola de Graciosa, que tem o
próprio samba de roda tradicional e o faz ativo até hoje. O seu surgimento no local deu-se origem desde a vida
de Mãe Laura, antiga mãe de santo do terreiro que se encontra na comunidade. A mesma chamava os moradores
em diversas ocasiões e festejos, como : Na lavagem da Igreja de São Salvador, nos mutirões, em eventos externos
de outras comunidades, nos carurus de São Cosme e Damião e nas festas do terreiro. Pois:
A cultura tradicional africana não conhece a arte voltada apenas para o
prazer estético. A música por exemplo, quase sempre em conjunto com Fazendo referência ao seu próprio significado, o samba de roda causa nos moradores um sentimento de
felicidade, satisfação e descontração, e são os motivos pelos quais ele ainda se faz presente na comunidade.
Devido a variedade e distinção dos eventos onde ocorre o mesmo, a manifestação contempla todo tipo de pessoas,
para os religiosos, para quem não possui crença alguma, e até mesmo abrange faixas etárias distintas. Foi
mencionado pelos entrevistados que já existiu um samba de roda mirim, que em suas opiniões contribuiria para
a preservação do mesmo no local, o tornando hereditário. Em vista disso, esta investigação tem por objetivo
analisar de que maneira o samba de roda influencia no processo de identidade desses indivíduos e, sobretudo, nos
aproxima da nossa ancestralidade, analisando as histórias que tornaram possível o surgimento da manifestação
no local, fazendo um paralelo entre os tempos da diáspora e os dias de hoje, e entendendo a importância da
hereditariedade do samba de roda, a partir de um contato direto com nossa herança cultural. Que, segundo
GRAEFF (2015) “A necessidade de proteção de sua diversidade se torna cada vez mais evidente e urgente dentro
dos constantes processos de globalização.” Está sendo utilizada como metodologia a leitura de um referencial
bibliográfico, aplicação de questionários qualitativos e quantitativos, bem como o registro de imagens e vídeos
como forma de perpetuamento visual da investigação. Com as entrevistas, percebe-se um fato digno de menção, todos os participantes do samba de roda são negros e a maioria delas são mulheres, um símbolo de resistência
reconstruindo e cultivando sua ancestralidade. Com o desenvolvimento deste trabalho científico percebe-se a
importância da realização e permanência do samba de roda como parte da identidade na cidade de Taperoá e de
Graciosa, no seguimento à cultura ancestral, principalmente nas comunidades tradicionais que continuam a
manter viva a história e identidade cultural, apesar de toda a modernidade e globalização, onde se vive numa era
de homogeneização que aos poucos tende a suprimir aquilo que não é tecnológico.