PROPOSTA DE ARRANJO PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA AGROFLORESTAL SUCESSIONAL BIODIVERSO EM ÁREA COLETIVA NO ASSENTAMENTO MARGARIDA ALVES, ITABELA-BA
Resumen
O uso de áreas de terras no Brasil, em sua maior parte, se dá a partir da produção de grandes
monocultivos, pecuária extensiva e exploração excessiva dos recursos naturais como solo e água sem a
preocupação com os impactos ambientais e sociais. Já a agricultura familiar é detentora da menor parcela de
terras com um contingente maior de estabelecimentos, segue em alguns casos o modelo de monocultivo e criação
extensiva e em outros, modelos tradicionais de cultivo, como a consorciação. O uso de Sistemas Agroflorestais
(SAFs) constitui-se em uma alternativa de estímulo econômico à recuperação florestal com a incorporação do, componente arbóreo nos estabelecimentos de agricultores familiares. Ao mesmo tempo em que são produtivos,
visando o consumo de subsistência e a geração de renda, levam em consideração os aspectos ecológicos do
agroecossistema e sociais da comunidade. Emergido a partir das lutas de centenas de trabalhadores e
trabalhadoras rurais sem terra, o Assentamento Margarida Alves atualmente possui 110 famílias assentadas e está
localizado no município de Itabela/BA, às margens da BR 101, Km 764. No assentamento, a equipe técnica do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) trabalha os princípios da agroecologia na comunidade.
Todas as famílias assentadas estão desenvolvendo o trabalho de transição agroecológica em seus quintais
produtivos, no qual, 18 famílias já se encontram com sistemas agroflorestais recém-formados e outras 14 famílias
em fase de implantação. Nesse contexto, de acordo com LOPES et al., (2018) os quintais produtivos são lugares
multifacetados e com múltiplas funções, pois além de garantir a soberania, a segurança alimentar e a saúde das
famílias, representam a oportunidade de perpetuação dos saberes, cultura, sabores, simbologias, memórias,
práticas e reconstrução de novas estratégias de reprodução socioeconômica e conservação da biodiversidade. O
principal objetivo da pesquisa foi de selecionar culturas matrizes para servir como base para a elaboração do
desenho e planejamento do arranjo de um Sistema Agroflorestal (SAF) modelo para implantação na área coletiva
do assentamento Margarida Alves. O levantamento de espécies foi realizado em dois quintais produtivos, tidos
como referência, com a finalidade de selecionar culturas e espécies de plantas comumente cultivadas na
perspectiva de geração de renda e sustentabilidade do agroecossistema. O trabalho foi realizado junto às
Instituições fundadoras do “Projeto Assentamento Agroecológicos do Extremo Sul da Bahia”, sendo a Escola
Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto (EPAAEB) situada na BR 101, km 832, Prado/BA;
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
Esalq/USP, Piracicaba/SP e Assentados de Reforma Agrária do Assentamento Margarida Alves, Itabela/BA. A
pesquisa de levantamento de espécies presentes nas agroflorestas de dois quintais produtivos, juntamente aos
agricultores, foi realizada por meio da vivência e acompanhamento durante o período dos meses de agosto e
setembro de 2018, com o uso de planilhas de registros de dados e questionários semi-estruturados para a
sistematização. A partir das espécies levantadas, foram escolhidas algumas como matrizeiros, de forma geral,
resistentes a pragas e doenças e, que se desenvolvam bem no solo e clima da região. As principais espécies, que
possuem retorno econômico, encontradas nos quintais produtivos dos lotes dos agricultores assentados foram: o
feijão-catador (Vigna unguiculata), aipim (Manihot esculenta), café (Coffea), cacau (Theobroma cacao), banana
(Musa spp.), urucum (Bixa orellana) e citros (Citrus sinensis L.), dentre as principais nativas destacaram-se o
jenipapo (Genipa americana) e o ingá de metro (Inga edulis). Durante as visitas nos lotes dos assentados
agrofloresteiros pôde-se observar os agricultores utilizando práticas e princípios de Sistemas Agroflorestais dentro de seus quintais produtivos, bem como espaçamentos corretos entre plantas no arranjo; plantas antagônicas
e companheiras; estratificação e sucessão ecológica, aspectos necessários para o funcionamento do sistema. No
desenho do arranjo do Sistema Agroflorestal proposto para a área coletiva do assentamento, levou-se em
consideração os princípios da sucessão ecológica e a estratificação. O planejamento foi realizado visando à
produção dessas culturas a curto, médio e longo prazo com variação da quantidade de mudas de cada espécie
segundo seu estrato e integração com outras espécies. Para ocupar o estrato baixo definiu-se o café (Coffea); para
o estrato médio o cacau (Theobroma cacao), banana (Musa spp.), urucum (Bixa orellana), citros (Citrus sinensis
L.) e para o estrato alto o jenipapo (Genipa americana) e o ingá de metro (Inga edulis), as culturas anuais serão
cultivadas no primeiro e segundo ano de implantação. A vivência e levantamento das matrizes realizadas
juntamente aos agricultores foram essenciais para a definição das espécies a serem implantadas na área coletiva,
pois, tornar-se-á uma vitrine para seus quintais produtivos, fortalecendo a autonomia, segurança e soberania
alimentar. Contudo, o planejamento de implantação do SAF deverá ser construído de maneira participativa,
gradativa, respeitando-se a lógica produtiva de cada família e os princípios de manejo agroecológico de forma a
reforçar a importância da consideração aos aspectos sociais e ambientais.