DOTAÇÃO E TALENTO: A TRÍPLICE INVISIBILIDADE DE ESTUDANTES NEGRAS

Autores/as

  • Alberto Abad Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF
  • Thaís Marques Abad Universidade Federal do Pará – Centro de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação do Amapá

Palabras clave:

Dotação, Talento, Tríplice Invisibilidade, Mulheres negras com dotação

Resumen

As políticas afirmativas surgem da necessidade de favorecer determinados setores da sociedade que sofreram ou seguem sofrendo os efeitos da discriminação, injustiça, racismo ou exclusão; dentre estes, na Educação Especial, os estudantes com características de dotação e talento (termos que no presente estudo serão considerados equivalentes ao que o Conselho Nacional de Educação do Brasil – Resolução 2001 – denomina como altas habilidades/superdotação) têm-se tornado invisíveis aos olhos dos professores, responsáveis e sociedade em geral. Sem embargo, o binômio alunas-negras-com dotação apresenta uma tríplice invisibilidade na nossa sociedade, devido entre outros fatores: à educação diferenciada a partir da colônia; a influência da família patriarcal na nossa sociedade; a construção social de gênero; a exígua representatividade de modelos femininos de sucesso; e as cada vez mais evidentes práticas discriminatórias e mecanismos racistas nos quais as mulheres negras têm oportunidades educacionais mais limitadas que as brancas da mesma origem social e portanto, são traduzidas em uma educação desigual, salários menores da média no país e uma maior taxa de desemprego. Fatores que influenciam a percepção de professores, discentes e responsáveis e, portanto, apesar da existência destas alunas negras com dotação e talento nas escolas brasileiras, são poucas as discentes indicadas às Salas de Atendimento Educacional Especializado. Assim sendo, o objetivo deste estudo é analisar os fatores que desencadeiam a invisibilidade do trinômio mulheres negras com dotação e talento nas escolas brasileiras. A metodologia utilizada é de tipo descritiva apoiada em uma pesquisa bibliográfica, que incluiu livros e publicações periódicas que abordam os estudos atuais sobre o Modelo diferencial de Dotação e Talento de Gagné e a Teoria do Domínio Social. Para acessar esses textos, efetuaram-se buscas eletrônicas em importantes fontes de informação para as áreas de Educação Especial e Psicologia, como: PsycINFO, Fundación Dialnet, Educational Resources Information Center (ERIC, Institute of Education Sciences) e Google Acadêmico. Adicionalmente, utilizou-se a estatística descritiva para analisar os microdados recolhidos por pesquisas, avaliações e exames realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) para mostrar o impacto da invisibilidade desse trinômio nas escolas brasileiras. Como resultados observou-se que os professores são os profissionais que em tese têm os conhecimentos e portanto, as melhores condições para observar e indicar as alunas negras com dotação e talento ao Atendimento Educacional Especializado da escola (considerando que tanto os familiares quanto os amigos delas geralmente não possuem esses conhecimentos), a possibilidade de que elas não ingressem às Salas de Atendimento Educacional Especializado da escola seja pelos mitos legitimadores, ou pelos estereótipos e hierarquias sociais estratificadas no inconsciente dos discentes (que os impedem de observarem a presença de indicadores de criatividade e indicadores de D&T), representa a possibilidade que estas alunas nunca percorram o processo de desenvolvimento de suas capacidades naturais e atualizem os seus talentos, e portanto sigam imersas na invisibilidade que representa uma serie de desvantagens cumulativas para estas discentes. Atualmente, a pesquisa está em processo de andamento, contudo, os resultados preliminares apontaram a uma quarta invisibilidade no Brasil: a das mulheres negras com dotação oriundas da região norte do país.

Citas

ABAD, Alberto. Mobilidade. Viabilidade de implementação de um polo de atendimento às altas habilidades/superdotação e talento na fronteira franco-brasileira (dissertação de mestrado). Universidade Federal do estado do amapá. Programa de pós graduação em estudos de fronteira. 2018.

ABAD, Alberto, et al. Evaluation of Fear and Peritraumatic Distress during Covid-19 pandemic in Brazil. https://doi.org/10.1590/SciELOPreprints.890

ACOSTA, Michael David. Gifted Education: A Multi-Case Study on the Identification Process of Historically Underrepresented Students. In Gifted Programs in North Carolina. 2019. https://digitalcommons.liberty.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=3134&context=doctoral

BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Secretaria de Educação Especial. 2001.

BRASIL. MEC.SEESP. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Parecer CNE/CEB nº13/2009. Diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília: 2009.

FREITAS, Soraia; PÉREZ, Susana. Manual de identificação de Altas Habilidades/Superdotação. Guarapuava: Apprehendere. 121 p. 2016.

GAGNÉ, François. The DMGT/IMTD Building Talented Outputs Out of Gifted Inputs. In callahan, C. & Hertberg-Davis, H. (Eds.). Fundamentals of Gifted Education: considering multiple perspectives. Second Edition. 2013a

GAGNÉ, François. Yes, giftedness (aka "innate" talent) does exist. In KAUFMAN S. B. (Ed.): The complexity of greatness: Beyond talent or practice. pp. 191-221. Oxford, UK: Oxford University Press. 2013b.

GAGNÉ, François. Academic talent development: Theory and best practices. In S. I. Pfeiffer, E. Shaunessy-Dedrick, & M. Foley-Nicpon (Eds.), APA handbooks in psychology. APA handbook of giftedness and talent (p. 163–183). American Psychological Association. 2018. https://doi.org/10.1037/0000038-011

GONÇALVES, Luiz Alberto Oliveira. Negros e Educação no Brasil. In, LOPES, E. M. T.; FILHO, L. M. F.; VEIGA, C. G. (orgs.). 500 Anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, pp. 325-346.

HASENBALG, C. Discriminação e Desigualdades Raciais no Brasil. Rio de Janeiro, Graal, 2005.

INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP). Sinopse Estatística Básica 2019.

ISLAM, Gazi. Social dominance theory. Encyclopedia of Critical Psychology, p. 1779-1781, 2014.

MILNER, H. Richard; LAUGHTER, Judson C. But good intentions are not enough: Preparing teachers to center race and poverty. The Urban Review, v. 47, n. 2, p. 341-363, 2015.

MOSCOVICI, Serge. The phenomenon of social representations. Social representations., p. 3-69, 1984.

NEGRINI, T. et.al. A identificação e a inclusão de alunos com características de AH/SD: discussões pertinentes. Revista Educação Especial n. 32, 273-284. 2008. https://doi.org/10.5902/1984686X103

OSORIO, Rafael. A mobilidade social dos negros brasileiros. Projeto BRA/01/013, “Combate ao racismo e superação das desigualdades raciais”, conduzido na Diretoria de Estudos Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) com recursos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Brasília. 2004.

PRATTO, Felicia et al. Social dominance orientation and the legitimization of inequality across cultures. Journal of cross-cultural psychology, v. 31, n. 3, p. 369-409, 2000.

PRATTO, Felicia et al. Social dominance orientation: A personality variable predicting social and political attitudes. Journal of personality and social psychology, v. 67, n. 4, p. 741, 1994. https://doi.org/10.1177/0022022100031003005

RIBEIRO, Arilda. A educação da mulher no Brasil-colônia. Dissertação de Mestrado em Educação. Universidade Estadual de Campinas, p. 148. São Paulo. 1987.

RODRÍGUEZ, Mauro. Autoestima clave del éxito personal. Editorial El Manual Moderno, Mexico, 1988.

SIDANIUS, Jim; PRATTO, Felicia. Social dominance: An intergroup theory of social hierarchy and oppression. 1999.

WRIGHT, Brian L.; FORD, Donna Y.; YOUNG, Jemimah L. Ignorance or indifference? Seeking excellence and equity for under-represented students of color in gifted education. Global Education Review, v. 4, n. 1, p. 45-60, 2017.

Publicado

2021-10-20

Cómo citar

Abad , A., & Abad, T. M. . (2021). DOTAÇÃO E TALENTO: A TRÍPLICE INVISIBILIDADE DE ESTUDANTES NEGRAS. Cadernos Macambira, 6(1), 193–203. Recuperado a partir de https://revista.lapprudes.net/CM/article/view/601