AS GEOGRAFIAS E HISTÓRIAS DO BAIRRO AVIÁRIO: IDENTIDADE E TERRITÓRIO
Resumo
INTRODUÇÃO
Esse resumo tem como objetivo relatar as vivências no Bairro Aviário, localizado na cidade de Feira de
Santana, Bahia, as quais consistem em realizar um mapeamento e estudo etnográfico do bairro, por meio do
Projeto de Pesquisa e extensão: As geografias e histórias do Bairro Aviário, este, assistido pela Política de
Assistência Estudantil – PAAE, 2019 através do Edital 02/2019 e Projeto Pibic EM. Este trabalho é instigado pela
localização do Campus IFBA Feira de Santana no Bairro Aviário e todos os discursos, ideias e imaginários
construídos sobre e para este lugar, que politicamente defendemos como território de preto, por ser um Bairro
com maioria de moradores/as de descendência negra. O Bairro é subdividido em Aviário I, II, III, IV e Conjunto
Paulo Solto, mais conhecido como Cidade de Deus.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O entendimento do Bairro Aviário, estigmatizado pela violência e pelos rótulos, conhecido popularmente
como bairro periférico e seus/suas moradores/as como uma população menos abastada economicamente e privada
de direitos e serviços públicos de qualidade, justificou essa pesquisa que levantou a necessidade de situar o Bairro
e seus/moradores/as, trabalhadores e trabalhadoras6
, como protagonistas em seu território geográfico e em sua
trajetória histórica, para isso há que se reivindicar seus moradores/as no foco de suas experiências e o IFBA como
incentivador desse processo e nunca como delimitador de fronteiras.
Dessa forma, operacionalizar uma desconstrução das ideias negativas sobre o Bairro, trazendo a reflexão
discursos deterministas e duálicos, lançando mão da prática etnográfica7
para investigar os sentidos políticos e os
dilemas sociais impostos a Comunidade em questão, considerando suas identidades individuais como
protagonistas, construídas a partir da identidade coletiva. De dentro do que chamamos “miolo” do Bairro, o
mapeamento se inicia no Conjunto Paulo Souto, também denominado popularmente como Cidade de Deus, o
olhar etnográfico nos permite verificar a organização espacial de qualquer outra Comunidade, com ausência ou
precarização dos serviços mais básicos, mas com sua própria subjetivação política.
Encontramos sujeitas, mulheres, a primeira é profissional Agente de Saúde; a segunda, mãe solo, dona de
casa e trabalhadora braçal. As duas nos relatam sobre essa subjetividade política do lugar, mas decidida e
protagonizada por mulheres pobres, em sua maioria sem marido e, sem casa, que numa articulação com o governo
municipal, conseguiram construir com as próprias mãos, um Conjunto de casas no ano de 2013. Foi relatado que
os/as moradores/as naquela ocasião tiveram a alternativa de ter suas casas construídas com os materiais e mão de
obra fornecidas pelo governo municipal, casas para famílias de baixa renda com 1 banheiro, 1 quarto, 1 sala e 1
cozinha, ao questionar o tamanho da casa, esse grupo de pessoas propuseram para o governo municipal que o
dinheiro reservado para pagamento da mão de obra, fosse convertido para compra de material e a força de trabalho
para construção fosse dos próprios moradores, a questão é que esses moradores eram em sua maioria mulheres e
sem marido, o que acabou desenhando um processo de construção executado por mulheres, daí a focalizando
teórica no protagonismo feminino na produção do espaço e dos lugares. As ferramentas eram delas, casas
construídas debaixo de muito sol, chuva e muita fome, pois a maioria não tinha renda mínima e o tempo para
produzir renda foi dedicado a construção da moradia. A alimentação era feita debaixo de um pé de jaqueira, onde o mesmo local era feito de descanso, nos
momentos de paradas do trabalho, esse pé de jaqueira foi eternizado em uma pintura na Praça do Conjunto, em
uma imagem que retrata todo esse processo. Um grupo de mulheres protagonizaram a construção de um conjunto
de casas e toda uma organização espacial de como pensar um cotidiano, a partir de um entendimento sobre
qualidade de vida, construindo uma casa que em vez de 4 cômodos, teve 5 cômodos. Juntamente com as casas
do Conjunto populacional Paulo Souto também foi construída uma Praça, que é chamada de praça Ceu, que pouco
tempo depois virou Sede do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) que atende não somente o bairro
do Aviário, mas diversas comunidades próximas ao Bairro.
Nesses processos de subjetivação e protagonismo político – relações entre as dimensões íntima, social e
pública – tomando as periferias como identidades coletivas, destacamos como as falas protagonizadoras e firmes
foram perpassadas por experiências que definem essas figuras femininas como seres humanas localizadas na
trama social do Bairro: a militante que vendera sua casa e saiu do Bairro por causa do estigma da violência; outra
moradora que tem filho preso no presídio que se localiza no próprio Bairro; outra moradora que se orgulha porque
o filho estuda no IFBA; a opinião política que destoa de toda uma consciência de luta; o conflito de moradoras
que não tem acesso ao Cras por causa da divisão espacial articulada de forma criteriosa pela Prefeitura; os
conflitos com a violência que é simbólica, concreta; o conflito com a polícia, com a política, com o tráfico e com
o próprio eu. Assim o trabalho de campo seguiu e segue e, partindo desse cenário não propomos pensar essas
mulheres e o próprio Bairro como vítimas de um tempo e de um lugar, mas como vozes na composição deste
lugar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante salientar que, inferno ou paraíso, tudo depende do lugar social, político e cultural do o/a
sujeito/a que fala e os elementos significativos dos quais se apropriam. Desse modo, não inferiorizar o/a
morador/ra a partir dos estigmas, dos estereótipos, mas considerar outros conceitos na discussão como propõe
Manuell Castells (1999), quando discute identidade como fonte de significado e experiências de um povo e um
conjunto de atributos culturais inter relacionados, os quais prevalecem sobre outras fontes de significados. A
discussão de Manuel Castells concentra-se na identidade coletiva e concorda com o ponto de vista sociológico
de que toda e qualquer identidade é construída, como a identidade dessas mulheres, forjada por suas experiências
positivas e negativas que envolvem luta, relações de poder, sensibilidades, autodefesas e alegria. Ressaltamos
que o referido bairro luta e se articula diariamente contra as ações do estado promovendo estratégias de organização e que o IFBA necessita estar a disposição da comunidade e se tornar um agente de desenvolvimento
e transformação social e m comum acordo com os interesses da comunidade.