DIVERSIDADE SOCIOCULTURAL DAS/OS ESTUDANTES DO IFBA – CAMPUS SEABRA, ORIUNDAS/OS DAS ZONAS RURAIS DO TERRITÓRIO DA CHAPADA DIAMANTINA
Resumo
Este trabalho tem como objetivo compreender os elementos constitutivos da identidade do/a estudante
das zonas rurais pertencentes ao IFBA- Campus Seabra. São sujeitos desse estudo as/os estudantes oriundas/os
das zonas rurais do Território da Chapada Diamantina, que cursaram o primeiro ano do Curso Técnico-
Modalidade Integrada em Meio Ambiente e em Informática do ano letivo de 2018. O interesse deste estudo surgiu
a partir da percepção da dificuldade que as/os discentes de zonas rurais tinham para se adaptar ao primeiro ano
de estudo, situação essa, que é debatida pela instituição e, uma lacuna encontrada durante o desenvolvimento da
pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação e Diversidade- PPED, UNEB, que é anterior e,
também, embasa essa pesquisa. O conhecimento do/a estudante da zona rural, de suas origens sociais, econômicas
e culturais, de seu modo de ser, pensar, posicionar e estar no mundo e de sua interação e sentimento de
pertencimento ao/no espaço escolar (dentro e fora da sala de aula), assim como seu processo de autoafirmação e
as modificações dos componentes identitários no processo de ambientação ao IFBA, são importantes para
contribuir na inclusão desses/as jovens ao processo educativo e de formação crítica e construção enquanto
cidadãos e cidadãs. Por se tratar de uma pesquisa em educação, a abordagem escolhida foi a qualitativa, com a
vertente fenomenológica, do tipo de pesquisa participante. Como dispositivos para a construção e obtenção de
informações foram utilizados: análise documental, questionário, entrevista semiestruturada e grupo focal. A
pesquisa Diversidade sociocultural dos/as estudantes do IFBA – Campus Seabra, oriundas/os das zonas rurais do
Território da Chapada Diamantina, é um estudo que apresenta um perfil distinto de cada turma dos 1° anos do IFBA- Campus Seabra, por meio do qual precisa ser trabalhado e estimulado o processo de autorreconhecimento
para que o espaço da sala de aula seja um ambiente de valorização do processo de ensino-aprendizagem para
os/as alunos/as das zonas rurais, assim como para os demais. Foi possível perceber com o estudo que as/os
estudantes rurais da turma de Informática Matutina possuem o perfil coletivo de pouca diversificação das ideias,
costumes e hábitos, e possuem maior facilidade para se expressarem sendo que estes/estas não sentem a
necessidade de autoafirmação enquanto raça e origem e por isso não encontram necessidade desse processo
estimulado pela instituição. A turma de Meio Ambiente Matutino abrange tanto a diversidade quanto também a
preservação de ideias, costumes e hábitos unificados a depender da temática abordada. Por esse motivo, os
processos de autoafirmação desses/dessas estudantes são distintos entre si, pois mesmo que mais de 25% já
haviam iniciado seus processos [de autoafirmação] antes de entraram no IFBA, na turma também há estudantes
que não sentem a necessidade de se autoafirmarem, por isso os/as estudantes rurais se divergem quanto a questão
da participação da escola no processo de autoafirmação. Enquanto que na turma de Meio Ambiente Vespertino,
por ter mais estudantes de zonas rurais do que nas outras turmas, a diversidade se apresenta com mais frequência,
todavia o processo de autoafirmação se assemelha com o da turma Matutina do mesmo curso, pois ocorre uma
divisão sobre os que se autoafirmam e acham importante a escola motivar essa temática. Os/as estudantes que
não sentem a necessidade de se autoafirmarem, entendem que não é papel da escola promover esse processo,
sendo que também há aqueles que não sentem necessidade de se autoafirmarem, mais entendem a importância da
escola trabalhar essa temática para quem deseja. Essa turma é a que menos tem facilidade para comunicação, já
que, mesmo sendo maioria em sala de aula, os/as estudantes das zonas rurais, principalmente quilombolas, se
sentem coagidos/as e isso provoca um processo de reclusão maior do que o que acontece na turma de Meio
Ambiente Matutino ou de Informática (a que menos sofre com essa problemática). Com relação aos elementos
constituintes da identidade, foi possível perceber uma grande diversidade sociocultural. No que diz respeito ao
gênero, há maior predominância de mulheres nos cursos de Meio Ambiente e de homens em Informática, sendo
que as mulheres encontram maior resistência para estudar no IFBA do que os homens, isso devido à resistência
dos pais e responsáveis em deixar as meninas residirem na cidade. Com relação à diversidade sexual, a maioria
se identifica enquanto hétero, todavia a turma de Meio Ambiente Matutino apresenta maior diversidade se
tratando desse elemento identitário. Quanto à religião, mesmo as/os estudantes sendo cristã/os, muitos delas/es
sofrem ou sofreram preconceito por conta de sua opção religiosa. A identificação étnico-racial gerou a demanda
de que a escola realize processos que incentivem e orientem os/as estudantes no seu caminho de construção
identitária. Já a partir dos dados sobre a renda, foi perceptível a diferença entre os turnos, pois mesmo as famílias
dos estudantes da tarde recebendo mais, a renda per capta é maior nas turmas da manhã, principalmente, em informática, pois o número de dependentes também varia dentro das famílias, de modo que se percebe a
importância que a Assistência Estudantil tem para os estudantes. A origem geográfica demonstrou a importância
de um conhecimento mais aproximado das vivências desses/dessas jovens pela instituição para o
desenvolvimento do trabalho pedagógico e de assistência estudantil para esse público. Dentro dessa ótica, é
importante salientar a necessidade de encontrar uma solução para o transporte público escolar responsável pelo
deslocamento dos/as estudantes das zonas rurais, visto que foi um aspecto identificado através do relato dos/as
estudantes durante a pesquisa com uma das lacunas mais influentes para os resultados negativos no processo
pedagógico e consequentemente o fortalecimento do não pertencimento do/da discente, configurando em um dos
motivos para evasão escolar. Diante de todo este estudo, é possível concluir que o IFBA- Campus Seabra possui
um papel preponderante no desenvolvimento local da Chapada Diamantina, principalmente pelo fato de que sua
missão envolve incluir jovens de 24 municípios participantes da área geográfica que o Território abrange, no
entanto, possui um desafio que é fazer com que essa população de estudantes das zonas rurais possam se
interessar, permanecer e concluir os seus estudos na instituição, através de uma aprendizagem significativa que
possa construí-las/os como cidadã/os que se estabeleçam na sociedade de forma crítica e ativa, tendo condições
para que exerçam suas profissões no mundo do trabalho e prossigam os seus estudos no mundo acadêmico. Muitos
caminhos ainda devem ser seguidos, a partir dos estudos é possível perceber que é preciso investigar mais sobre
os registros oficiais existentes no IFBA Campus Seabra sobre as comunidades quilombolas do Território da
Chapada Diamantina, às quais os estudantes pertencem. Tal situação é necessária pois durante a pesquisa foram
identificadas algumas inconsistências entre as informações dos registros escolares e os registros da Fundação
Palmares. Há importância na verificação desses dados, pois impacta nos recursos financeiros destinados a
esses/essas estudantes. Há, ainda, a necessidade de se estudar as demandas psíquicas dos/as estudantes de zonas
rurais, principalmente dos/das estudantes rurais quilombolas, pois estes/as são os que mais se sentem excluídos
em sala de aula. Outra questão a ser estudada é o impacto do deslocamento desses/dessas estudantes no seu
rendimento escolar, se o “entre-lugar” (SANTIAGO, 2000; BHABHA, 2001) influencia subjetivamente em suas
questões emocionais. Além disso, é importante o prosseguimento dos estudos que possam acompanhar os/as
participantes da pesquisa até a conclusão do curso. Sendo que é preciso conhecer as diversidades das zonas rurais
para que elas possam ser trabalhadas pela escola, pois isso é um elemento exigido pelo alunado do campo, mas a
instituição trabalha a zona rural como apenas uma, enquanto que cada comunidade possui suas próprias
peculiaridades, e se distingue das demais, ou seja, não há uma zona rural, mas zonas rurais. Outro ponto é analisar
o impacto que o processo de exclusão dos/as estudantes das zonas rurais gera no seu rendimento escolar, assim
como demanda estudos, também, os impactos que a renda promove no desempenho acadêmico e nas relações sociais dentro e fora da escola. E, por fim, é importante a realização de um estudo com os/as egressos/as das
zonas rurais, para conhecer o impacto do IFBA em suas vidas profissionais e acadêmicas e como o processo de
‘distanciamento’ da comunidade impactou em suas identidades.