O PAPEL DO MEDIADOR ESCOLAR: QUALIFICAR A MEDIAÇÃO PARA QUALIFICAR A INCLUSÃO
Palabras clave:
Mediação, Transtorno do Espectro Autista (TEA), InclusãoResumen
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a importância do papel do mediador escolar diante da Educação Inclusiva, tendo como ferramenta de pesquisa a experiência de mediação frente a um aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no período de alfabetização. Trata-se de um tema de extrema importância uma vez que a inclusão desses alunos ainda é uma temática muitas vezes conflituosa na escola e, dentre os motivos estão a falta de recursos, formação de professores muitas vezes insuficiente, a dificuldade em desenvolver atividades pedagógicas significativas, rede de apoio para/na escola. Nesse contexto, o recurso do mediador mostra-se muito interessante de ser abordado, pois pesquisas apontam que há ainda dúvidas sobre sua função e atribuições. A fim de entender mais sobre o assunto, e sobretudo, perceber a relação da mediação com a inclusão de alunos com TEA, metodologicamente essa pesquisa estruturou-se numa perspectiva qualitativa de Relato de Experiência realizada no Ensino Fundamental de uma escola privada do município de Angra dos Reis/RJ, a qual envolveu a interação de uma monitora e aluno com TEA em diferentes momentos de interação, bem como impulsionou o seguinte questionamento: qual a importância do mediador no processo de aprendizagem, desenvolvimento e inclusão de um aluno com TEA? No intuito de responder esta questão, foram desenvolvidos três momentos: a) estudos de referenciais teóricos sobre a temática da inclusão do aluno com TEA e mediação escolar; b) problematização da mediação com relação à aprendizagem e desenvolvimento do aluno sobre alfabetização e sua inclusão na escola como um todo, tendo como foco escritas em Diário de Campo por parte da mediadora sobre as vivências pedagógicas realizadas num período de três anos; c) reflexões de como o mediador pode auxiliar no processo de inclusão do aluno com TEA mesmo sem ser a ele exigida formação específica. Para tanto, buscou-se realizar análise dos dados da pesquisa na perspectiva de Bardin (2011) ao elencar pontos importantes da serem problematizados. Neste sentido os resultados permitiram perceber como o mediador tem a possibilidade de influenciar e ter papel decisivo não apenas no processo de alfabetização através de intervenções pedagógicas significativas, mas no processo de inclusão como um todo, frente aos demais colegas, professores, estratégias e diferentes espaços escolares. Os registros em Diário de Campo possibilitaram perceber a atuação ativa da mediadora (em conjunto com a professora), bem como a contribuição dessa atuação para o avanço pedagógico do aluno com TEA desde aspectos comportamentais até aos conhecimentos escolares – fato que pode ser comparado com sua aprendizagem e desenvolvimento anteriormente muito restritas. Ou seja, mesmo compreendendo que a abordagem pedagógica não é sua função definida, defendemos que em meio a uma formação adequada o mediador pode contribuir (o que é extremamente válido) com o processo de aprendizagem, desenvolvimento e inclusão desses alunos, sendo possibilitado por meio das parcerias estabelecidas entre esse profissional, o professor da sala de aula, terapias que o aluno frequenta, a família. Uma vez entendendo que a inclusão desses alunos ainda busca encontrar os melhores caminhos e estratégias, o recurso do mediador para além das questões de cuidado e locomoção podem ser considerados de grande valia para chegarmos cada vez mais perto de uma escola realmente inclusiva para todos – sendo necessário maior reconhecimento e valorização de sua função.
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